Há algumas semanas, como fazemos todos os anos, fomos conferir a mostra Casa Cor. Ao invés de fazermos uma descrição sobre os espaços e tendências, dividimos aqui algumas reflexões de como os movimentos da sociedade atual – na qual questionamentos sobre hábitos de consumo, coletividade, sustentabilidade, urbanidade, praticidade, tecnologia, pluralidade e design autoral – estão se refletindo na arquitetura de interiores que, assim como a moda, a música e as demais artes, refletem o momento pelo qual a sociedade passa, suas transições e questionamentos. Basta saber interpretá-los. Dentro desse cenário, a Casa Cor deste ano acertadamente traz para a mostra a temática “Foco no Essencial”.
A palavra que resume o mood da mostra deste ano é “ecletismo”. Ecletismo é uma doutrina ou tendência que recolhe e seleciona elementos de outras teorias que parecem apropriados. A essência do ecletismo está na liberdade de escolher e conciliar vários estilos diferentes. E, nesse sentido, podemos perceber esta tendência em cada um dos 44 ambientes, sejam em pequenos detalhes, ou no conceito do espaço como um todo. Não existe mais “moda” ou “tendência” universal para cor e acabamento de marcenarias, pinturas, texturas, tecidos, papel de parede, padronagens, acabamentos de metais e louças, iluminação, pisos etc. O que vemos é a arquitetura se adaptando a cada função, a cada ambiente e, principalmente a cada perfil de usuário, sem verdades absolutas, resgatando o que “foi” (e continua sendo) bom e belo – e nos brindando com resultados que surpreendem.
Exemplificando um pouco desse resgate que vem com o ecletismo, observamos a volta da boa e velha samambaia, planta com a qual nossas mães e avós adornavam o interior de suas casas, em estruturas metálicas escalonadas. Durante muito tempo, foram marginalizadas, dando espaço a vegetações mais estruturadas e aparência mais escultural. Praticamente 2 em cada 5 ambientes da mostra, do mais colorido ao mais minimalista, tinham uma samambaia compondo a decoração.Em relação aos acabamentos de paredes, houve a época de cores vibrantes, de papel de parede, cortiça, texturas (milhões delas) e espelhos. Hoje se vê de tudo: cerâmicas revestindo paredes que parecem madeiras, madeiras que parecem pedra, pedras estampadas em papel, texturas que imitam concreto, por exemplo. Não há limites para a criatividade.Trazendo o tema da mostra, “Foco no Essencial”, para a conceituação dos espaços, temos lofts totalmente integrados e práticos. Ambientes infantis sem panos, babados e um milhão de móveis que só atravancam sem deixar “espaço pra brincar”. Os ambientes externos são descontraídos, que mesclam conforto e rusticidade, livings que conversam com o uso “de fato” do espaço (e não mais um lugar bonito só para ser visto). O café e o restaurante se apresentam com disposições inusitadas que sugerem mais convívio e proximidade, e por aí vai.E viva a pluralidade! Cada um com sua verdade – o que, diga-se de passagem, é muito bom. Não temos mais um modelo único, que trazia consigo um engessamento estético de outras épocas e que nunca funcionou, pois não se adaptava as diferentes realidades. Que esse movimento rico em possibilidades e alternativas invada cada vez mais a arquitetura, os profissionais e as grandes incorporadoras do nosso país, e que qualifiquem urgentemente nosso desenho urbano.
*A 26ª edição da Casa Cor ocorre desde o dia 04 de julho e segue até o dia 27 de agosto, em Porto Alegre. Pelo segundo ano consecutivo, o evento ocorre no Petrópole Tênis Clube, prédio que faz parte da história da cidade (Rua Faria Santos, 451 – Petrópolis).
Texto: Valéria Arruk
Fotos: Divulgação/CASACOR
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